domingo, 6 de maio de 2012

Essa tal Economia


Nos últimos tempos ando acompanhando de perto a queda livre dos juros aqui no Brasil – e com algum esforço, tento entender tudo isso. A princípio me ocorreu que as taxas de juros quando brutalmente reduzidas (como foi o caso) só poderiam significar um coisa: uma medida tomada pelo Governo Brasileiro visando se tornar um país de primeiro mundo, ao menos economicamente. Sim! Do ponto de vista econômico pode-se dizer que o que “emperra” o Brasil são as exorbitantes taxas de juros, que inviabilizam investimentos no país. O Estadão diria: “enfim baixaram a guarda, e o Brasil vai pra frente”. Partindo desse ponto de vista, esta derrubada dos juros poderia significar a passagem do Brasil para o primeiro mundo, não só economicamente! (muitas palmas) Não que eu acredite nisso, mas...
 
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A constante desvalorização do Real frente ao Dólar e os consecutivos déficits da BOVESPA cristalizam minha hipótese, o Brasil abre muitas portas para investimentos de toda sorte. Mas, como minha mãe sempre diz, só acredito vendo! Por isso, me mantive caladinho até o dado momento.

Ontem ao conversar com minha namorada, chegamos (não me pergunte como) ao assunto economia. Ela estuda COIN (rs!) - comércio internacional – e por se tratar de uma visão baseada em uma perspectiva que certamente não é igual a minha, fiz questão de prestar muita atenção em tudo que ela me falava. Passamos por todo esse papo acima, até que... Ela me contou sobre os novos procedimentos da caderneta de poupança, cujos rendimentos agora variariam de acordo com a taxa Selic, não mais apresentando um rendimento fifío (fixo + pífio). Podendo render mais ou menos do que o habitual todo mês, já que, a taxa Selic é que nem bunda neném, você nunca sabe o que vem a seguir.
Neste momento minha cabeça estalou! Finalmente consegui entender a significado de tudo isso. A queda dos juros facilitadora de investimentos arrojados (como dizem os bancos) se conecta com a alteração do formato da poupança, que de um investimento tido como conservador (mesma fonte do parêntese anterior!) se transforma em um investimento não tão “sem emoções”, como o era. A poupança nesse momento gera riscos para quem investe seu dinheirinho nela (A Classe Média piiiiiiiiiiiira), os riscos não são tão grandes como na bolsa de valores e similares, mas agora, meu caro investidor conservador você pode colocar uma quantia na poupança, calcular quanto esta vai render num determinado período e, vu Alá, no final deste período o seu cálculo, muito possivelmente, estará errado: a poupança poderá ter rendido desde um valor muito inferior (sim, isso é possível) como um valor muito maior. Como diria Winston Churchill e seu célebre charuto: “O Liberalismo é assim” pausa para uma tragada no charuto “é feito de oportunidades, quem melhor aproveitá-las, vencerá”. Se preparem meus amigos, as paranóias com relação a segurança crescerão em progressão geométrica!
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Para você que não entendeu ainda, essas medidas adotadas pelo Governo Brasileiro, em conjunto, nos levam a um incentivo (para qualquer um) a investimentos arrojados – que na língua da plebe, significam aqueles que apresentam certo risco ao investidor – e ao desencorajamento de práticas mais conservadoras – que na língua da plebe, significa trazer riscos ao pobre, digo, investidor – de tal sorte que as classes emergentes que estão nos primórdios de sua acumulação de capital (juntá dinheirin todo mês) se sentem, de tal maneira, estimuladas a integrar, cada vez mais, os hall dos investidores. Em outras palavras o abismo de SEGURANÇA E ESTABILIDADE que havia entre a poupança e os investimentos arrojados diminuiu. O potencial mercado investidor de R$ 431,3 bilhões que se encontra “morto” na chatice da caderneta de poupança se vê agora mais próximo de se investido em outras áreas. “Se não é pra ser seguro e estável, o melhor, então, é arriscar” - doce engano...

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhK3bEs0s_SKK-8kGNXnucP57xrZHPoNAkkbJSAv29Bto8g0TJMml5rgkiQ0TwY0I2EMDWVlRNChoh3zg5DqswsaL_78O8HSnnuoQZIOeMW4qVQBIO_GQDyBHCpLHK0phJrQIrrWLWk84Y/s1600/200150_4.jpgDurante a conversinha cult com minha namorada ontem, foi inevitável a lembrança de um livro que li há quase dois anos: Stupid White Men – Uma Nação de Idiotas do escritor e cinegrafista (cantor nas horas vagas) americano Michael Moore. Neste livro de leitura simples e muito gostosa, Moore aborda, entre outros assuntos, a história da bolsa de valores americana e uma grande mudança que esta sofreu na passagem dos anos 70 para os 80 – detalhe: este tema também é abordado, porém com menos detalhes, no filme, do mesmo Michael Moore, Capitalismo – Uma História de Amor. No livro, Moore nos fala do American Way of Life e o rascunho do rascunho de Estado de Bem-Estar Social que se deu nos Estados Unidos após a segunda guerra mundial. Segundo este relato, as coisas eram de fato como é retratado nos filmes (talvez com menos glamour), a economia ia muito bem e os salários eram excelentes (até para cargos baixos). O American Way of Life era defendido com unhas e dentes por todos, pois era algo que agradava a grande parte da massa, e – bem diferente do que é hoje – na maioria dos casos, se uma pessoa se esforçasse durante toda sua vida, através de um “trabalho enobrecedor”, a recompensa, a felicidade, a vitória no American Way of Life era óbvia – o próprio Pai de Moore era um operário da GM da cidade de Flint, Michigan e foi um “vencedor”. Tudo dava certo para as pessoas (eu disse pessoas, negros e pobres não eram pessoas nesta época – talvez até hoje...). Durante esse período a economia, o mercado, e também as empresas iam muito bem, até a virada dos anos 70 para os 80.

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Como é comum na história, nada se explica simplesmente como uma fórmula matemática, há um conjunto de fatores que se influenciam entre si que nos conduzem a mudanças. Neste caso, Moore descreve que o mercado das empresas, que era muito bom até então, começou a ficar saturado e era necessário arrumar algum outro meio de “girar a economia”. Foi então que veio a idéia genial de um dos chefões do mercado, de abrir a bolsa de valores para essa Classe Média que colhia os frutos do American Way of Life. A este ponto, a acumulação de capital desta parte da sociedade era enorme. Todos acreditavam plenamente no ideal de juntar seu dinheirinho durante toda a vida e ter uma velhice tranquila. A Classe Média transbordava dinheiro “morto” guardado em bancos – por mais consumistas que fossem, poupavam dinheiro. Neste momento os meios midiáticos de comunicação assumem relevante importância. Isso mesmo! A mídia entrou em ação para divulgar com todas as suas forças a maneira de “vencer na vida antes da hora” através da bolsa de valores. Na verdade, os primeiros a investir se deram muito bem. A ascensão social dos primeiros investidores foi fator amplamente explorado pela imprensa para espalhar por toda a Classe Média a necessidade de investir, caso contrário, você seria um perdedor. Não sou nenhum defensor da miséria evangélica, mas em matéria de capitalismo, ser arrojado significa perder tudo a qualquer momento, a menos, que se seja rico, ai tudo fica mais fácil. A mídia continuou seu trabalho de divulgação e associou o American Way of Life com essa nova fase de investimentos, de arriscar - aquele papo todo do Churchill. Tudo ficou mais simples graças a Guerra contra o Comunismo (que exigiu a união de todos em volta do estilo de vida americano) e graças a Ronald Reagan que assumiu a presidência americana e acabou de vez com o rascunho do rascunho de Estado de Bem-Estar Social americano levando o país a “rédeas curtas” durante o período de crise. Crise? Talvez você se pergunte: “qual crise? Não estava tudo bem?”. Pois é meu caro leitor, como disse, as mudanças não se dão isoladamente. A simples abertura da bolsa de valores para a Classe Média não resultaria em tantos problemas. Mas, entretanto, porém, todavia, a ação conjunta de bolsa de valores, mídia e governo, foi mais do que suficiente para a emersão de uma crise e a “necessária” contenção desta. A mídia com seu papo nacionalista e puritano (tipicamente americano) conduziu a massa que havia juntado seu precioso dinheirinho durante toda a vida para um caminho sem volta.

http://dominiodavida.blog.br/wp-content/uploads/2009/02/crise.jpgO investimento na bolsa de valores era então parte do American Way of Life. As famílias aplicaram todo o seu dinheirinho batalhado durante toda a vida na promissora bolsa de valores esperando um retorno rápido que as levasse da casinha Ranch para uma mansão de frente para o mar em um piscar de olhos. Só tem uma coisa, eles esqueceram que o capitalismo não comporta riqueza universal, a desigualdade é condição sine qua non para o capitalismo. Iludida e ludibriada, a Classe Média acreditou no conto de fadas que o Titio Adam Smith contou sobre a “riqueza universal” e investiu pesado. Como disse, no começo foi só alegria: a bolsa de valores cumpria bem mais do que prometia – muitas pessoas subiram na vida rapidamente. Os “poupanceiros” indecisos, ao ver o sucesso dos investidores arrojados, se jogaram de cabeça. Com o número crescente de pessoas que entravam no negócio da bolsa de valores, os lucros antes exorbitantes, começaram a cair. Passaram de maravilhosos, para bons, legais, meia-boca e por ai vai. A mídia fez sua parte em afirmar através de “especialistas em economia” que a diminuição dos lucros, e depois aparecimento de prejuízos, eram algo passageiro, que as pessoas não deveriam se encucar com isso – aos poucos a galinha dos ovos de ouro iria se recuperar, mais hora ou menos hora. Neste meio tempo os grandes investidores (os grandes meeeesmo, não a ralé da Classe Média) foram aos poucos se retirando do mercado de ações, em um movimento conjunto. Muitos deles venderam suas ações na “época boa”, ficaram ainda mais ricos e foram viver de boa pelo resto de suas vidas em algum paraíso tropical. Outros optaram por vender suas ações e esperar. Já a massa, tonta como sempre, se manteve esperando, mesmo com a desvalorização das ações. Em um belo dia ensolarado, a mídia deu o sinal de alerta (ou a ordem, se preferir): A BOLSA DE VALORES NÃO É MAIS UM BOM NEGÓCIO, CAIA FORA DESSA! Foi um samba do crioulo doido. Nesse momento os que ainda tinham ações resolveram desesperadamente se desfazer delas. Todo o sonho de uma vida havia sido jogado fora. Mas naquele momento terrível, dramático, diria até de tragédia, que boa alma se ofereceria para comprar as ações tão desvalorizadas? Quem seria o anjinho que devolveria pelo menos o mínimo do dinheirinho da vida das pessoas que aplicaram na bolsa? É claro, que foram os mesmo senhores que abriram a bolsa de valores para essa população e então generosamente reconheceram sua falta, comprando de volta todas as ações, porque seria muita sacanagem deixar todas aquelas famílias desamparadas, tendo em mãos, apenas um papel que não mais traria a tão prometida felicidade.

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Após alguns minutos me recompondo no toilette, volto pra falar mais dessa história tão triste. A crise então estava instaurada. A economia americana foi de mal a pior. Era preciso um presidente de pulso firme, um presidente republicano que erguesse o país. Quem é este homem? O nosso querido, famoso, galã e ex-ator Ronald Reagan, Ronny para os íntimos (foto à direita. Hey Ronny beleza?). Diante da crise, o Estado americano precisava se levantar, logo, as políticas públicas precisavam ser cortadas porque além de fazer o Estado gastar muito, era coisa de comunista devorador de criancinha – o rascunho do rascunho de Estado de Bem-Estar Social nos EUA foi para a lata do lixo (na versão moderna, isso se chama: medidas de austeridade. Né Angela Merkel?). Como solução precisa e necessária para reerguer a Nação e vencer a Guerra Fria, o homem da frase: “Você consegue realizar muito se você não se importa com quem ganha o crédito.” estabeleceu que: pobre que não investe deve ser taxado e rico que investe deve ser isento. O que houve depois disso é o que existe até hoje nos States, os pobres pagam os impostos dos investimentos dos ricos. Simples assim. É nóis Ronny!

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVEWXdKWN6uS7z0VOBFt9TQatddrh2arE_Ei7-4yKka9poQk2Z-JVIYUpTm1ph5kF7snMWwuo2z8WNaj_1rib5Xwp7sPR8hvxxmZb0639Yv9ufh0g2TVXaRo14m2sTg49sLmpOBmBzR9s/s1600/mealheiro-poupar-credito-emprestimo-dinheiro-crise.jpgLogicamente que esses generosos senhores que investiram o dinheirinho deles nos Estados Unidos não se preocupavam com o retorno, o lucro que viria a seguir, e sim, com o futuro da nação. Claro que sim! Do contrário não teriam aberto mão de todos os lucros dos investimentos e partilhado tudo isso com as famílias lesadas na abertura da bolsa de valores... Ops! Desculpem-me, estava com o livro errado sobre minha mesa! Não era a coletânea de princesas da Disney que eu deveria estar lendo. É óbvio que todo o retorno provindo desses investimentos ficou justamente na mão dos senhores de Wall Street. A situação seguiu, e a economia americana se ergueu novamente. Os impostos continuaram com os pobres. As ações (agora muuuuuito valorizadas) continuaram com os ricos. E o pintinho piu. Tem gente que chama isso de economia ou política-econômica, eu particularmente prefiro o termo golpe, ou talvez melhor: Golpe Palaciano.

Toda essa reflexão sobre o livro de Moore nos mostrou como a classe dominante com o auxílio do Estado e da mídia conseguiu se valer de uma série de coisas para se apropriar do dinheirinho “morto”, “poupanceiro” e conservador da Classe Media.


Hoje em dia no Brasil existe um imposto sobre as poupanças que têm mais de R$ 50 mil – uma clara forçação de barra para que você rico de classe média alta ou classe alta baixa se toque e pare com essas coisas de pobre medroso e comece a investir por ai!

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Como futuro cientista social, acredito que uma das minhas funções nessa sociedade é analisar fatores que podem estar relacionados, de imediato ou não, para então ser capaz de perceber tendências e inclinações desta sociedade. Lógico que tudo isso que nosso amigo Michael Moore descreve em seu livro, aconteceu nos Estados Unidos e não tem nenhuma obrigação de acontecer no Brasil. Como estou aqui na cara larga tentando dar uma de Mãe Diná, corro o risco de errar, e na realidade esse conjunto de fatores acabar por nos levar para algo diferente. Mas, me sinto na obrigação de opinar e optar pelas possibilidades que acho mais prováveis. Embora o Brasil nos dias de hoje não esteja passando por crises, não tenha um governo com todas as características de um governo republicano, não esteja envolvido em guerras ideológicas, e mais importante: não seja os EUA, vejo fatores relevantes para ficar alerta. No Brasil há uma Classe Média ascendente (Classe C) que junto com as outras camadas da sociedade totalizam R$ 431,3 bilhões investidos na caderneta de poupança, juntamente com uma mídia pouco confiável que está muito longe de ser imparcial, e o mais importante: uma massa populacional que assim como a americana, se encontra desnorteada, à espera de um guia – seja ele do meio político, do midiático ou mesmo do meio espiritual e religioso – que conduzirá essa massa imersa em meio a inércia que se encontra disponível para a obediência - justamente por falta de determinação própria. Esses fatores citados acima quando colocados no mesmo plano de uma mudança estrutural da política econômica, são pilares muito bem constituídos para a reprodução do que Moore descreve em seu livro, porém, dessa vez, aqui no Brasil.

Sites consultados (05/05/2012 - 09:00 às 12:00):

http://pensador.uol.com.br/autor/ronald_reagan/ (você não achou que eu saberia de cor uma citação do nosso Ronny?)

http://economia.terra.com.br/noticias/noticia.aspx?idnoticia=201205041025_TRR_81165670



Tche

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